sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O episódio do geladinho


Acho que de tanto ficar curiosiando sobre ele, minha mente (que eu ainda não sei porque funciona assim) me devolveu um flashback de infância, uma imagem de um rapaz falando comigo quando eu voltava da escola.
Eu com uniforme do colégio municipal, tranças no cabelo, ele um adolescente, mas não lembro bem dos traços. Lembro, no entanto, claramente a voz. Eu sei que eu era muito nova porque minha mãe tinha ido me buscar na escola, junto com outras mães e seus outros filhos da mesma idade e do mesmo bairro. Eu voltava com mais outros coleguinhas, subindo a rua da minha casa,
brincando pelo caminho, deixando as mães para trás.

        Tinha sido esta sim a primeiríssima abordagem: “Olha, fala pra sua mãe que os geladinhos que ela fazia são os melhores da cidade. Eu fui comprar outros depois, mas nenhum se compara àqueles dela, fala pra ela. Se ela voltar a fazer eu com certeza compro mais”. Aí eu voltei correndo pra dizer pra minha mãe o elogio do rapaz à suas habilidades na cozinha. Ela ficou agradecida, talvez tenha acenado pra ele de volta, não me lembro bem.
 
        A produção do geladinho aqui em casa durou cinco ou seis meses, eu me lembro mais ou menos dessa época. Iguarias como beterraba com leite condensado eram sucesso na rua. Não consigo esquecer de uma menina que nos deve 10 geladinhos até hoje.  Mas a minha mãe não voltou a fazer depois do elogio. “Dá muito trabalho”- ela dizia.

       E, em torno de, talvez, doze anos depois, ele volta ao meu cotidiano. Ele certamente não sabe que eu sou a filha da moça que fazia geladinho. Achei também que só eu fosse capaz de lembrar dele.
Esses dias falei pra minha mãe que o “rapaz do geladinho” me fez a delicadeza de um elogio na rua. Minha mãe instantaneamente lembrou-se dele, era fiel freguês. "Ah, aquele rapaz, lembro sim" ela disse.

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