quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Devaneio de esquina

Aquelas risadas pueris... tantos sonhos em cultivo passando a saltitar pela rua 7 na esquina com a Padualense. Quando vejo crianças assim, é inevitável que passe em minha memória alguns dos momentos que me causam nostalgia. Não tive uma infância bonita, nem tão pouco digna de honras, mas não me custa recordá-la por instantes. Não posso evitar. Menos rugas que preocupações, passei anos ocupando-me de afazeres que não eram meus e esqueci-me de ser de fato uma criança e viver como tal. Mas cuido de lembrar com exatidão a brisa que cortava meu rosto quando, sem precisar olhar para os lados a procura de automóveis, mexia as pernas com urgência para me proteger dos que tentavam encostar seus dedos em mim e pôr me como o azarado da brincadeira. Era o momento em que nada ao redor importava, não havia nada em mim: nem pensamentos, nem preocupações, nem medos. Talvez nem de roupas eu me munia. É uma sensação de liberdade que cabe apenas a esses pirralhos sortudos. Não invejo seu momento. Eles têm o ar impuro, carros por toda parte, e a iminência de serem surpreendidos por quaisquer eventos ruins que recheiam uma metrópole. Mas eu juro por esses cabelos brancos que me escapam às orelhas, qualquer um deles ali sente a liberdade que nunca mais senti.