sábado, 3 de dezembro de 2011

que é pra ignorar o mundo explodindo lá fora.

te vejo na feira


A verdade é que quando eu olho pra ela
se houvesse chuva, eu sei que a aura de energia
que ela comporta ao redor
repeliria cada pingo
porque quando ela flutua na direção das frutas
e o dono da barraquinha olha pra ela
eu percebo que ele tem os olhos ofuscados
pela luz que ela comporta ao redor
e que vem de dentro, eu sei.
ainda assim, quando ela pega as maçãs
quando ela apalpa o tomate
eu sei que no fundo no fundo
ela apenas cumpre com uma habilidade admirável
a mania de escolher com cautela
de qual desses tons de vermelho
vai ruborizar a pele do rosto
enquanto me olhar parado na outra calçada
e perceber que ao mesmo tempo eu olhava de volta.
aí ela vai se assustar por me ver ali mais uma vez...
depois ela vai caminhar novamente
com um ar de quem não se importa
mas eu sei que no fundo no fundo
na hora de descascar as frutas que comprou pela manhã
vai se perder em pensamentos tão dispersos
e na sublimidade de suas reinações
vai me lembrar parado na esquina
acompanhando toda aquela candura
entornar os pés um de cada vez na calçada enquanto passa.
se ela soubesse que eu acordo cedo só pra ver isso
aquele princípio de sorriso perdia a vergonha
e ela acenaria, só por simpatia
e eu ia dormir bem mais leve que as sacolas que ela carrega.