sexta-feira, 5 de agosto de 2011

eu-lírico


Ela era loira falsa e feia, gostava de baladas sujas e beijos suados, de calças de cintura baixa, e decotes abusivos, tinha unhas grandes e fracas, a infância roída e o rosto pintado de vermelho. Vergonha nenhuma. Palavrões todos. Os que ouvia e os que dizia. Muitos ela desconhecia o significado, mas subentendia enquanto rebolava no caminho. Tinha o cabelo oleoso, muitas tatuagens e outros arrependimentos pelo corpo. Ouvia Kesha no quarto, por horas dançando com a luz apagada. E não tirava o lápis dos olhos pra dormir. Sua mãe tinha desgosto da vida, o pai apenas o gosto da bebida na boca, mais nada. Todos os irmãos a respeitvam. Tudo que ela temia na vida, era gravidez e incencêndio em casa, mas todas as manhãs abortava os sonhos de sua mãe e queimava de ódio do mundo, dentro de si. Ela era forte e fraca demais.
Só quando dormia é que cessava o pesadelo da vida; quando acordava, lembrava que esquecera de limpar a maquiagem, de tomar banho, de lavar as calcinhas porque acabaram as limpas. Tossia e lavava o rosto com água; e não limpava absolutamente nada.

Às vezes ela queria sair de dentro da dona do Jardim mas sabia que ficava melhor escondida lá dentro, ajudando-a a escrever.